domingo, 27 de fevereiro de 2011

Paraíso II



Expulsa do Paraíso

Tragédia em três actos numa dependência da Optimus

por Manuela Pereira

Personagens


Uma funcionária
Um funcionário
Uma rapariga
Uma aposentada
Uma trabalhadora
Uma mulher
Coro de homens
Um corifeu


É um dia de Fevereiro frio e muito chuvoso.
Ao meio da tarde as nuvens negras já se tinham vindo acumular sobre a dependência da Optimus. Anunciavam tempestade.
Lá dentro as pessoas aguardam numa atmosfera parada e quente continuamente rasgada por toques de telemóvel e por conversas privadas gritadas ao telefone.
O quadro electrónico com as suas letras A, B, C, D e E, respectivos números e caixas de atendimento, brilha, vermelho, destacando-se das luzes com reflexos amarelados.  

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Tahiti

Manao Tupapau


"Em cima do colchão, ao rés da terra, nua, de barriga para baixo, com as redondas nádegas levantadas e as costas um tanto curvadas, metade da cara voltada para ele, Teha'mana fitava-o com uma expressão de infinio espanto, os olhos, a boca e o nariz franzidos, numa careta de terror animal"

                                                                "O Paraíso na Outra Esquina! Vargas Llosa 


domingo, 20 de fevereiro de 2011

Paraíso I



  
O Paraíso da Conceição
 .Temperatura de Algarve entre Maio e Junho;
. cidadezinha do sul de França, muito bem urbanizada e com pouca gente, muita largueza;
. praia de areia fina e boas ondas;
 . a 10 metros da praia, uma biblioteca com clássicos e contemporâneos, periódicos, cd's de música, as melhores versões de gregoriano a Webern e mesmo outros depois. Podem-se ouvir lá e levar para casa por 15 dias e às molhadas de cada vez;
. restaurante à beira-mar, mobiliário de madeira pintada em tons claros, mesas dando para as janelas e estas para a areia;
 .servem-nos amigos com grandes aventais, que nos tratam pelo nome e cozinham comida vegetariana deliciosa por preços baratos (gosto da ideia de haver dinheiro no paraíso, para finalmente ver como é ser bem distribuído);
. pode-se beber vinho e comer todos os doces que se quiser, que não se engorda;
. dunas e bosque para passear e, lá ao fundo o spa onde se vive, com direito a massagens tailandesas, quantas queira, mas sem cheiro a insenso;
. uma casa da música no centro da cidadezinha, com toda a música, menos pimba. Também pode não ter folklore.
. uma casa de cinema com cinemateca e filmes novos.
. um teatro onde só há boas peças, com bons actores e boas encenações;
. muitos lugares simpáticos para conversar, mas ninguém é impedido de ser solitário;
. quem sente necessidade de amar, é sempre correspondido;
. quem quer fazer ... seja o que for (menos chatear) fá-lo muito bem feito;
. toda a gente é alegre, mas também triste quando é preciso; chorar, só a ver os Fellinis com a Julieta Massina;
. toda a gente tem bicicleta.
. há animais simpáticos e bem tratados por todo o lado e não fazer cócó na rua;
. toda a gente paira entre os 30 e os 60 anos; quando chega aos 60, volta aos 30.
. quem sentir saudades de se martirizar, vai à cinemateca ver o Non ou a Vã Glória de Mandar  do Manoel de Oliveira ou uma gravação histórica de um discurso do Fidel Castro, peças armazenadas para esse fim.


Que tal?

Conceição, danada por um belo paraíso alí à esquina.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Discurso de Vargas Llosa, Prémio Nobel da Literatura 2010


A literarura crê na fraternidade dentro da diversidade humana e eclipsa as fronteiras que a ignorância, as ideologias, as religiões, as línguas e a estupidez levantam entre homens e mulheres

O Paraíso

Tema de reflexão a apresentar na sessão de Março do Clube de Leitura:



O MEU PARAÍSO NA OUTRA ESQUINA

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

"uiha"!!!


Queria mandar um abraço a todos os que produziram textos. Todos belíssimos e cheios de garra literária. Penso que este lugar é mesmo para nós, gente crescida, "de uma certa idade", com algumas folhas já amarelecidas, alguma patine, mas  ainda capazes de tanta coisinha! Sabem que isto hoje de ler jornais está perigoso: lê-se alguns títulos e cai-se para o lado...Televisão, "uiha"!!! - como se diz lá em cima: por isso, só nos resta esta escapatória para além dos (muitos) afazeres escolares. Mas, como me dizia há uns largos anos o meu amigo Diogo Alcoforado, se não arranjarmos um extra que nos compense as frustrações que apanhamos no ensino, estamos tramados: eu sei que tenho a Maria, o António Pedro e o Francisco, mas ainda não me dão a trela que eu preciso, a não ser a Maria que já discute comigo "as princesas" e "os irmãos Grimm"...

José Melo



segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Memórias IX

- Clube de Leitura – 3 Fevereiro -



“Pensando nelas (dificuldades), precisamente, ou procurando o rasto da felicidade e da profundidade da vida, vemos pelo vidro do carro, da janela de casa ou do barco em que se atravessa o Bósforo, imagens que acompanham o nosso pensamento. Isto é muito importante porque, com o tempo, a vida, uma melodia, um quadro ou um conto conhecerá altos e baixos, ao passo que as imagens da cidade que passam diante dos nossos olhos, mesmo anos mais tarde, conservarão para sempre a frescura e ficarão em nós como a lembrança de um sonho.”
Orham Pamuk – Istambul,


(- falo dos altos e baixos da vida, olhando pela janela: umas cidades são os altos, outras os baixos – quase uma montanha russa!)


Quando olhei pela primeira vez por uma janela, dum carro ou dum barco, vi uma aldeia, que nem recordações me deixou: fez o favor de me ver nascer e de fazer os meus pais, que também olharam para fora, viver o que ainda hoje chamam os piores anos das suas vidas! Era essa terra uma aldeia, Lorvão, de que nada trago, não pelo que tinha de “fim do Mundo”, perto das margens do Mondego, mas apenas porque de lá sai sem saber sequer gatinhar, ou o meu nome (não que sabê-lo me valha alguma coisa…).

Memórias VIII

INFÂNCIA


Desde essa altura, pergunto-me sempre quais são as invisíveis relações que determinam a nossa vida e que fios as unem.
W.G. Sebald


Prefiro lembrar os momentos em que a minha infância foi só feliz.

Pensar no tempo em que me sentia protegido. Do tempo em que pensava ter um destino especial só para mim.

Do tempo em que vivia no paraíso.

Nascido em Bragança, a “minha terra” sempre foi, e é, Miranda do Douro.

Nesse tempo, há já muito tempo, os Setembros e os Natais eram esse tempo de felicidade absoluta. Mas, como sempre, eram tempos fragmentados pelos quais aguardava o resto do ano. Já nesse tempo tinha consciência da descontinuidade do estado de felicidade.

Menino da cidade, regressava à aldeia de toda a minha família (avós, pais, tios, primos) nesses dois períodos do ano. Regressava ao meu paraíso.

Na casa grande, aguardava-me sempre a minha avó, de quem sempre me lembro vestida de negro, com uma presença tão certa quanto a do grande rochedo que se situava nas traseiras da casa grande.

Eu era um pequeno príncipe no meu pequeno reino de abundância.


sábado, 12 de fevereiro de 2011

Para os amantes das palavras

Para aqueles que (como nós) se encontram no «caminho»
o único sentido possível é o «caminhar».

Para os amantes das palavras,...

recordo agora, com uma tremenda evidência,
as palavras do nosso Caeiro,

"Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar..."

Esta é a única condição de quem ama as palavras.

Os amantes vivem na vertigem do sentir,
no exercício do medo,
na latência do fim.

As palavras escondem o sentido,
no movimento invisível da escrita,
e encontram-se na queda.

Sempre gostei de ler os livros que ninguém quer ler.

Tal como tu, também prefiro o Borges embora o Llosa seja sempre uma boa escolha.

Para os amantes das palavras, para lá da escolha, (lembro-me de Truffaut)
o que importa é a coragem de ler os livros antes de serem queimados, rasgados ou democraticamente excluídos.
Porque a «democracia» é uma outra maneira de largar o fogo.

Para todos, as palavras do Borges no "Aleph":

"Arrasado o jardim, profanados os cálices e os altares, os hunos entraram a cavalo na biboteca monástica e rasgaram os livros incompreensíveis e vituperaram-nos e queimaram-nos, talvez com medo que as letras incluíssem blasfémias contra o seu deus, que era uma cimitarra de ferro."

Em nome dos livros que nunca foram amados
porque nunca foram lidos.

Em nome dos amantes das palavras.

Miguel Pais

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Mario Vargas Llosa


"Seríamos piores do que somos sem os bons livros que lemos, mais conformistas, menos insubmissos e o espírito crítico, motor do progresso, nem sequer existiria”
 

                          Vargas Llosa, Prémio Nobel da Literatura 2010

O Paraíso na Outra Esquina




O livro a analisar e discutir, na próxima sessão do Clube de Leitura da Escola Artística Soares dos Reis,  é "O Paraíso na Outra Esquina"  de Mario Vargas Llosa. A sessão está agendada para dia 24 de Março, 5ª feira, 18h30, na Biblioteca.

Na ausência do olhar dos ocidentais, torno-me eu o meu próprio ocidental

Istambul, Orhan Pamuk

"Nos anos 50 e 60 do século XX, a Turquia via-se a si mesma como um lugar provinciano, ainda que Istambul,  geograficamente, se localizasse na Europa. Como a maioria da humanidade, a Turquia sentia-se  fora da história. A história fazia-se em Londres, Paris, Nova Yorque. Ainda hoje, os turcos partilham com 90% da humanidade este sentimento de não estar a fazer a história, de ser provinciano, de imitar o centro.Isto é extremamente comum no mundo não ocidental. Para acalmar este ressentimento, esta zanga,  sublinhamos as nossas diferenças, sobrevalorizamos as nossas tradições, mas uma parte de nós sabe que não é isso que quer. A atracção pela modernidade ocidental tem sempre, para nós, estes dois lados e porque,  culturalmente, a Turquia é feita deste drama, essa é uma  questão que eu trato quase sempre nos meus romances."

Orhan Pamuk 
Entrevista  no Institute of International Studies
University of California at Berkeley

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Memórias VII



Istambul de Orhan Pamuck








Mapa de Portugal pregado na parede, eu recitava as estações e apeadeiros da linha do Douro (bem queria aqui dizê-las, mas só me lembro da Régua, Pocinho e Barca d’Alva) da linha do oeste (nem uma) e de todas as linhas de Angola e de Moçambique. Tentava depois situar na carta os sistemas montanhosos para ver se a minha memória visual ajudava a outra, aquela que eu tinha de ocupar com os rios e afluentes de todas as águas do Império.

Memórias VI







OÇLACSED RADNA ODIBIORP É


São poucas e vagas as recordações dos anos anteriores à minha vinda para Portugal em 1961. Lembro-me do grande quintal da nossa casa, da celha onde se lavava a roupa e onde eu gostava de molhar os pés, das pratinhas de chocolate que eu olhava fixa e intensamente até trocar os olhos, das histórias que a minha irmã Mimosa contava aos mais novos… (A minha preferida era a que começava por: “Conta, conta, Vó Capinha, a história daquela moça que numa noite de lua, toda nua, toda nua, o jacaré engoliu.” Eu repetia vezes sem conta o estribilho inicial, deleitando-me nas palavras que provocavam em mim simultaneamente o encantamento e o temor).

Mas todas essas memórias são vagas e não consigo descortinar se as imagens que chegam hoje até mim se constituem efectivamente como memórias ou se, à força de terem sido sucessivamente evocadas nas conversas em família, eu não terei acabado por me autoconvencer que de memórias se tratavam.

Memórias V


Na procissão do Senhor dos Passos, fui de São José, graças aos bons ofícios dos meus avós. Assim, para além do trajo costurado pela minha avó e tão imaculado que só podia ser anterior à fuga para o Egipto, estava devidamente dotado de uma auréola que teimava em desmentir a minha santidade, tal era a sua tendência para descer à terra. O meu avô, que tinha o poder de transformar bocados informes de madeira em formas que estavam escondidas, tinha criado miniaturas de todos os apetrechos que faziam de mim um carpinteiro liliputiano, como um pequeno martelo ou uma serra de brincar. No entanto, ao contrário do santo, a minha preocupação não estava relacionada com a hipótese de que a minha esposa pudesse ter tido algum comércio carnal fora do casamento. Estava revoltado, isso sim, com as constantes paragens da procissão, o que me levava a puxar constantemente a manga do meu avô e a ordenar-lhe que andasse. A verdade é que, no quintal, estavam vários bandidos que aguardavam, impacientes, uma derrota certa.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Memórias IV

A sala de visitas


                                    
    A sala só se abria na Páscoa para receber o compasso.
 Nessa época era um corre, corre, com a limpeza, a lavar,
 a escovar tudo, a sacudir… e a sala ressuscitava com a
toalha de bilros sobre a mesa, repleta de coisas doces.
A laje da entrada e a do corredor cobriam-se com
 pétalas de flores. Eu estreava um vestidinho de Verão,
de popelina, sempre com um casaquinho de malha por
cima, porque “… o tempo ainda  não está de fiar.”, dizia
a minha mãe.


domingo, 6 de fevereiro de 2011

Visita a Istambul





                                                                                      Orlando Falcão

Trabalho realizado a partir de duas fotografias, uma da Mesquita Azul, e outra de um azulejo muito degradado, que se encontrava sobre uma velha fonte. Grafite e guache.

                                

A mulher de Istambul

                                      

                                                                                        Orlando Falcão

                                                                  Prémio "Fugas"  Jornal Público



A mulher de Istambul




Istambul, como se sabe, é uma cidade peculiar: a sua localização estratégica, dividida entre a Europa e a Ásia, separada pelo Estreito do Bósforo e banhada pelo Mar da Mármara, proporcionou-lhe uma História singular. Primeiro Bizâncio e depois Constantinopla, capital dos Impérios Bizantino e Otomano, acumula e preserva em si vestígios de um passado de riqueza, poder e conflitualidade únicos.
Ainda hoje, principalmente na zona antiga da cidade, onde se concentram muitos dos   monumentos mais significativos, somos tomados por essa sensação de peso da História e do tempo, se bem que muitas vezes ela se revele dissolvida no bulício mundano do turismo massificado e no consumismo exacerbado de locais como o Grande Bazar (nem por isso menos impressionante).
No entanto, ao entrarmos em qualquer uma das muitas mesquitas ou igrejas bizantinas da cidade, esse mundo febril que se agita no exterior dá lugar a uma paz e espiritualidade muito intensas. Descalços, ao transpormos a tela que protege a entrada, passamos de repente para um mundo de silêncio e recolhimento.
Esta fotografia foi feita no interior da mesquita Suleyiman.
Ao penetrar na zona restrita reservada às mulheres, senti que algo se suspendia no tempo: esta mulher poderia lá estar há muitos anos, fechada na leitura e meditação e fechada na sua condição de mulher muçulmana.
A que Deus rezaria? Com que fé? Certamente ao único Deus possível, não ao Deus em nome do qual hoje se trava o que chamam “conflito de religiões”.
A sua posição de concentração absoluta, de tal forma absorta nos seus pensamentos que não se apercebeu da minha presença próxima, a luz filtrada pela janela que a iluminava naquele final de tarde quente de Agosto, fazendo-a destacar-se da penumbra envolvente, no seu traje integralmente branco, fizeram-me lembrar um quadro de Vermeer.
Mas, acima de tudo, a serenidade que emanava desta mulher, fez-me pensar no absurdo que é o actual estado do Mundo.



Orlando Falcão

Memórias III

OLEIROS, AQUELA CASA GRANDE…

« As lições da infância
desaprendidas na idade madura.
Já não quero palavras
nem delas careço.»
(Carlos Drummond de Andrade, Antologia)

Creio que já o disse uma vez: o mundo que herdámos de crianças, na sua miscelânea de imagens, sons, cheiros, sabores, cores e formas, configurando uma "gestalt" muito domesticada pela nossa subjectividade reflexiva, passou a fazer parte da nossa memória autobiográfica. E se Umberto Eco afirma, em entrevista dada à revista "Ler"( nº.65), que das várias memórias, conforme estudou, esta é a única que se perde, eu penso que é exactamente ao contrário e é esta que vive connosco, nos alimenta os sonhos e os desejos e nos reconforta a alma, a partir desse longínquo e agora pouco acessível paraíso de pássaros e de ninhos que é sempre o lugar da infância. A partir do seu ponto do horizonte de onde se traçam todos os nossos fios de azul.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Memórias II



A viagem já começou.
Afinal, duas salas.





Nasci em Viana do Castelo e aí vivi até aos 10 anos num grupo familiar constituído pelos meus pais, avós maternos e tia Celeste, irmã solteira da minha Mãe.
Sou filha única.
Viver em Viana há mais de meio século significava ter um grande espaço vital: desde crianças passeávamos pela cidade com bastante liberdade, controlavam-nos as horas de chegar a casa, não os espaços por onde se andaria. Jogava-se na rua a macaca, o passará, o pilha e, no Campo da Agonia, as cordas e o mata, que requeriam maior largueza. Para casa ficavam os deveres da escola, as leituras, os desenhos e a costura de roupinha para as bonecas. Os rapazes, mesmo os meus primos e os irmãos das minhas amigas, não participavam em nada disto. Desprezávamo-nos mutuamente.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Havia a rua envolta em nevoeiro...

Huzun

"Agora esforço-me por falar não da melancolia de Istambul, mas do huzun (muito próximo da melancolia), um sentimento interiorizado com orgulho e ao mesmo tempo partilhado por toda uma comunidade."

Istambul    Orhan Pamuk

Memórias I

Huzun  no Porto

Era assim todos os domingos: almoçar em casa dos  avós e ao fim da tarde regressar a casa. Esse regresso provocava-me sempre, e inexplicavelmente, um sentimento de tristeza que me levava a inventar todos os pretextos para retardar a hora da saída: uma boneca de quem não me despedira convenientemente, um livro de pintar que ficara esquecido no quarto dos brinquedos e que subitamente era indispensável para sobreviver a mais uma semana, uma última descida a cavalo do corrimão, brincadeira altamente reprimida e censurada por toda a família, mas que naqueles momentos de despedida, eu sabia, iria encontrar uma tolerância benevolente. Depois, cá em baixo, outra aventura se perfilava que me suavizava o momento de partir: saltar quatro degraus! Vovó fechava os olhos e rezava qualquer coisa entre dentes que terminava em Nª Senhora de Fátima.