terça-feira, 22 de novembro de 2011

Uma História de Amor e Trevas



18 de novemnbro
Realizou-se a sessão do CL com a presença da Professora Doutora Elavira Mea. da FLUP As questões ligadas ao judaísmo, nomeadamente em Portugal, foram o tema da sua intervenção: o que é ser judeu, as razões da diáspora, os rituais e a doutrina, os cristãos-novos, a inquisição em Portugal. 
 Ainda dentro da contextualização de "Uma História de Amor e Trevas", o percurso histórico   dos judeus, da génese ao século XX, foi o objecto da  apresentação realizada  por Conceição Rocha com "Breve Apontamento sobre a constituição de Israel".
Analisando de modo mais concreto a autobiografia de Oz, Manuela Pereira reflectiu sobre as razões que levaram   Amos, na adolescência, a renegar o seu apelido - "O Pequeno Amos Klausner, o jovem Amos Oz".
A sugestão de continuar a história começada pela mãe do autor foi aceite por José Rebelo e Luísa Moniz que escreveram, a quatro mãos, uma nova  história de amor e trevas,por Margarida Mouta que num texto inspirado revisita a narrativa autobiográfica de Oz e por Alexandra Azevedo com "Nem Uma Palavra".
Destaque ainda, para o trabalho de Adelino Geraço que concebeu os marcadores e o cartaz que publicitou o encontro.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Uma História de Amor e Trevas

 Verba volant, scripta manent


Temas de reflexão para a próxima sessão

·          O pequeno Amos Klausner _ Quando era criança queria crescer e ser um livro
·       O jovem Amos….Oz
·       Arié Klausner _ O meu pai tinha um temperamento obviamente lituano
·       A mãe
·       O judeu da diáspora
·       Os judeus e a terra de Israel _ havia no mundo lugares onde a verdadeira vida se         desenrolava, longe dali, na Europa de antes de Hitler
·       A ideologia do kibutz
·       Abjecta é a calma
·       Elisa, o pássaro
                                      
                                           Ti da di da di da da


terça-feira, 1 de novembro de 2011

Uma História de Amor e Trevas

"Era uma vez uma aldeia abandonada por todos os seus habitantes.Até pelos cães e gatos.."

Leia a  primeira história já publicada em comentários (24/10/2011) .

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Próxima sessão

A próxima sesão do Clube de Leitura realizar-se-á no dia 18 de Novembro de 2011, pelas 18h30 e contará com a presença do Professora Doutora Elvira Mea da Faculdade de Letras da Universidade do Porto.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Uma História de Amor e Trevas

"Era uma vez uma aldeia abandonada por todos os seus habitantes.Até pelos cães e gatos. Até os passarinhos a deixaram. E durante muitos anos a aldeia ficou assim silenciosa e deserta. A chuva e o vento arrancaram os telhados de colmo, a neve e o granizo abriram brechas nas paredes das cabanas, as hortas secaram e apenas as árvores e arbustos continuaram a crescer, mas como não havia quem as podasse foram ficando cada vez mais emaranhadas. Uma noite, chegou à tal aldeia um viajante que se enganara no caminho. Bateu à porta da primeira cabana e eis que ...queres continuar?"

Uma História de Amor e trevas",   Amos OZ

Aqui fica o primeiro desafio para a próxima sessão. Continue a história e publique-a como comentário

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Tomas Transtromer

                                                                                    O poeta sueco                                                         
                                                
        Tomas   Tranströmer          

 
     é o Prémio Nobel da Literatura de 2011



 
A Academia sueca anunciou que Tranströmer merceu o galardão "porque, através das suas imagens condensadas e translúcidas, nos dá um acesso fresco à realidade".


Tomas Tranströmer escreve sobre a morte, a história, a memória e é conhecido pelas suas metáforas. Em Portugal, Tranströmer tem poemas publicados em duas antologias, uma delas chama-se "Vinte e um poetas suecos" (Vega,1987).



PÁSSAROS MATINAIS (1966)

Desperto o automóvel
que tem o pára-brisas coberto de pólen.
Coloco os óculos de sol.
O canto dos pássaros escurece.
Enquanto isso outro homem compra um diário
na estação de comboio
junto a um grande vagão de carga
completamente vermelho de ferrugem
que cintila ao sol.
Não há vazios por aqui.
Cruza o calor da primavera um corredor frio
por onde alguém entra depressa
e conta como foi caluniado
até na Direcção.
Por uma parte de trás da paisagem
chega a gralha
negra e branca. Pássaro agoirento.
E o melro que se move em todas as direcções
até que tudo seja um desenho a carvão,
salvo a roupa branca na corda de estender:
um coro da Palestina:
Não há vazios por aqui.
É fantástico sentir como cresce o meu poema
enquanto me vou encolhendo
Cresce, ocupa o meu lugar.
Desloca-me.
Expulsa-me do ninho.
O poema está pronto.

Tomas Tranströmer






FUNCHAL

O restaurante do peixe na praia, uma simples barraca, 
construída por náufragos.
Muitos, chegados à porta, voltam para trás, mas não assim 
as rajadas de vento do mar.
Uma sombra encontra-se num cubículo fumarento e assa 
dois peixes, segundo uma antiga
receita da Atlântida. Pequenas explosões de alho.
O óleo flui nas rodelas do tomate. Cada dentada diz-nos que
o oceano nos quer bem,
um zunido das profundezas.

Ela e eu: olhamos um para o outro. Assim como se trepássemos 
as agrestes colinas floridas,
sem qualquer cansaço. Encontramo-nos do lado dos animais, 
bem-vindos, não envelhecemos. Mas já suportámos tantas 
coisas juntos, lembramo-nos disso, momentos em que 
de pouco ou nada servíamos (por exemplo, quando esperávamos 
na bicha para doarmos sangue ao saudável gigante –
ele tinha prescrito uma transfusão).
Acontecimentos, que nos poderiam ter separado, se não nos tivessem 
unido, e acontecimentos
que, lado a lado, esquecemos – mas eles não nos esqueceram!
Eles tornaram-se pedras. Pedras claras e escuras. Pedras de 
um mosaico desordenado.
E agora mesmo acontece: os cacos voam todos na mesma direcção, 
o mosaico nasce.
Ele espera por nós. Do cimo da parede, ilumina o quarto de hotel, 
um design, violento e doce,
talvez um rosto, não nos é possível compreender tudo, mesmo 
quando tiramos as roupas.

Ao entardecer, saímos.
A poderosa pata azul escura da meia ilha jaz expelida sobre o mar.
Embrenhamo-nos na multidão, somos empurrados, amigavelmente, 
suaves controlos,
todos falam, fervorosos, na língua estranha.
“ Um homem não é uma ilha “

Por meio deles fortalecemo-nos, mas também por meio de 
nós mesmos. Por meio daquilo que
existe em nós e que o outro não consegue ver. Aquela coisa 
que só se consegue encontrar
a ela própria. O paradoxo interior, a flor da garagem, a válvula 
contra a boa escuridão.
Uma bebida que borbulha nos copos vazios. Um altifalante 
que propaga o silêncio.
Um atalho que, por detrás de cada passo, cresce e cresce. 
Um livro que só no escuro se consegue ler.

Tomas Tranströmer
tradução de Luís Costa



LISBOA

No bairro de Alfama os eléctricos amarelos cantavam nas
subidas.
Havia duas prisões. Uma delas era para os gatunos.
Eles acenavam através das grades.
Eles gritavam. Eles queriam ser fotografados!

"Mas aqui", dizia o revisor e ria baixinho, maliciosamente,
"aqui sentam-se os políticos". Eu vi a fachada, a fachada, a fachada
e em cima, a uma janela, um homem,
com um binóculo à frente dos olhos, espreitando
para além do mar.

A roupa pendia no azul. Os muros estavam quentes.
As moscas liam cartas microscópicas.
Seis anos mais tarde, perguntei a uma dama de Lisboa:
Isto é real, ou fui eu que sonhei?

Tomas Tranströmer
tradução de Luís Costa














quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Amos Oz

Um dos mais famosos escritores israelitas, reconhecido e aclamado internacionalmente, Amos Oz nasceu em Jerusalém em 1939. Estudou filosofia e literatura na Universidade Hebraica de Jerusalém e começou a publicar aos 22 anos. A sua obra, que se dstribui por diversos géneros _ romance, novela conto_, está traduzida em mais de trinta línguas, incluindo o árabe.  Fundador do movimento pacifista Shalom Akhshav (Paz Agora), Oz é dos mais influentes intelectuais israelitas e um dos primeiros defensores de uma  Palestina independente como solução para o conflito israelo-palestiniano.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Humor Judaico

Clube de Leitura EASR
A Conspiração contra a América, Philip Roth
28 de Julho de 2011

Humor judaico

por Margarida Mouta
                          ”Ria dos seus próprios problemas e nunca lhe faltará matéria para rir”
                                                                              Provérbio judaico

Na origem do humor que subjaz ao riso está o jogo intelectual, o trabalho sobre a ideia e sobre a palavra, a busca da sintonia na aproximação de sensibilidades e de formas de ver o mundo. Falar em humor pressupõe, pois, perspectivar o conceito no quadro de uma pluralidade de culturas, de vivências, de crenças religiosas…
No que diz respeito ao humor judaico (ou humor dos judeus, se preferirem) existe a convicção de que o humor tem funcionado ao longo dos tempos para o povo judeu como um mecanismo de defesa, nascido da necessidade de protestar, através da ironia, contra a opressão a que estava sujeito. Face à discriminação e às sucessivas migrações que caracterizam a sua história, as sucessivas adaptações à cultura do outro terá levado o povo judeu a querer superar a tragédia com o riso. Fazendo da auto-ironia a sua defesa, os judeus terão desenvolvido, assim, um duplo olhar sobre o mundo, um olhar que engloba, por um lado, o seu ponto de vista e, por outro, o das comunidades que os rodeiam.
Vladimir Jankélévitch, filósofo judeu do século XX, salientou num dos seus textos que o humor “é um
jogo, mas um jogo sério. O humor é a evasão da má consciência pela liberdade; é ele que
pacifica a insolúvel contradição; o humor preservava-nos do desespero quando sofríamos e
agora entretém-nos nessavivacidade que é também um dos traços que distingue a alma judaica."
Pensando nas formas de humor judaico que chegam até mim através das piadas disseminadas em
livros, filmes e séries da televisão, de imediato o associo à ausência de palhaçada, ao
discurso elaborado, perspicaz e inteligente, caracterizado pelo tom contido, em que a ironia
ou o sarcasmo estão presentes. A reacção que me provoca não é a gargalhada, mas antes um
sorriso melancólico, divertido e respeitoso por quem sabe rir dos seus próprios defeitos.
 Porque as piadas dos judeus reflectem sobretudo a sua capacidade de escarnecer das suas
próprias particularidades. Como subterfúgio para afirmar a sua identidade, o judeu ri de si mesmo
 e dos outros judeus, enfatizando os defeitos intra-muros. Dentro da comunidade, todos são alvos.
Nada nem ninguém escapa. São fustigadas personalidades, instituições (como a família e a
obsessiva omnipresença da “yiddish mama”), tradições e práticas religiosas e até mesmo Deus
surge como figura satirizada. Conjurando-se a existência dos tabus que rodeiam esses temas,
neste contexto muito particular, não existem objectos não risíveis:
Samuel encontra-se com o seu velho amigo Jacob 
- Olá Jacob! Há quanto tempo não te via! Como vai a vida?  
- Vai muito mal!  
- Porquê Jacob, o que foi que aconteceu?  
- A minha mãe morreu na semana passada!  
- Não me digas! Os meus sentimentos! O que é que ela tinha?  
- Infelizmente, pouca coisa. Uma casa, duas lojinhas no centro da cidade e uma pequena propriedade no interior!

Reescrevendo a história... ou talvez não

                          
Clube de Leitura EASR
A Conspiração contra a América, Philip Roth
28 de Julho de 2011
                                                                                                                        
História do insucesso
                                                                                                                                                                                         

por  Conceição Rocha


Há dias que mais valia desaparecerem no calendário. Num desses, comprometi-me a reescrever um lapso da História em pura ficção, isto é, partindo da premissa inversa do sucedido de facto, construir uma pátria que, por obra dessa inversão, tivesse vivido um outro destino singular. À la Philip Roth, já se vê. Desatei logo a trabalhar.
1º passo: escolher um período histórico para ponto de partida. Significativo, decisivo na configuração da identidade nacional, deveria abraçar na sua importância a totalidade social – política, económica, cultural, religiosa, tudo.
Então formulei questões:

·         e se D. Manuel não tivesse trocado os cultíssimos e riquíssimos judeus pela vaca com quem casou?

·        
   e se Filipe III tivesse preferido defender a posse de Portugal em vez da Catalunha, ou além da Catalunha?



·         e se D. João V tivesse sido homem para gastar com proveito nacional o ouro do Brasil?



·         e se o Marquês de Pombal, além de matar os Távoras e expulsar os jesuítas, tivesse feito Portugal aderir à Reforma e impulsionado a revolução industrial?

·         e se a Maria da Fonte tivesse sido uma mulher ilustrada, que tivesse chorado com as elegias de Byron e pela sua alcova minhota tivessem passado Verlaine, Pushkin, Garrett e o jovem Liszt?

·         e se o 28 de Maio tivesse sido uma revolução socialista e o 25 de Abril uma perestroica?

2º passo: escolher uma questão em que me aguentasse minimamente quanto a informação verdadeira, para a poder manipular devidamente. Como se viu, Philip Roth domina a história verdadeira, o que o torna um mistificador perfeito.

E então, interroguei-me:
·         deverá o período temporal escolhido tocar no da minha própria existência, para me aproximar mais do verosímil?

Neste momento produtivo tinha já à minha disposição duas grandes atrapalhações:
1.    escassez de conhecimentos históricos;
2.    extrema dificuldade em matizar a narrativa, por forma a que o inventado não surgisse simplesmente como o inverso  do realmente ocorrido. Do género: se o D. Manuel tivesse aproveitado o enorme potencial da comunidade judaica, tinha-se construído uma sociedade próspera, culta, etc. Hoje éramos mais e melhor. Baaaa…

3º passo, ou passo liquidatário:
Depois de muito matutar, concluí que desta vez não era mesmo capaz de dar saída à empresa. Com tristeza me apercebi que, pegasse na ponta que pegasse ia sempre dar a um inverso simplista, sem a complexidade que é da natureza da História. Também me apercebi que o meu jogo imaginário de mudança, ao contrário de Philip Roth, vai sempre cair no real que me desagrada para o poder exorcizar reescrevendo-o nas suas consequências inversas. E dei por mim a, mesmo imaginando um real melhor, não lhe conseguir dar grande futuro. Um bom momento político nunca dura muito em Portugal. Assim é também o meu imaginário neste tema. Quando imagino um momento glorioso, cheio de futuro, aparece-me logo no horizonte mental um Sócrates qualquer a arruinar tudo.

Resta-me esperar pelo texto do António, que percebi que escolheu este dificílimo item. Acredito que ele ultrapassou todas as limitações que me afetaram (nova ortografia) e nos vai dar uma História interessantíssima.

Desejosa da compreensão do clube e certa de que as outras intervenções farão esquecer com enorme vantagem a minha pobreza de espírito e falta de fé na Pátria,

sou aquela que vos adora,

Conceição Ladina


quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Reescrevendo a história

Clube de Leitura EASR
A Conspiração contra a América, Philip Roth
28 de Julho de 2011
As marcas que Março marcou

por António Nabais

Na noite de 16 de Março de 1974, dez minutos depois da uma da manhã, um comboio militar saía do Regimento de Infantaria 5, nas Caldas da Rainha. Por alguns minutos, a imensa serpente de veículos militares deixou no ar o cheiro do gasóleo e o rugir dos motores. Para além do frio da noite, a única testemunha do cortejo foi um homem que conduzia um tractor, obrigado a ceder a passagem, e que deu por si a procurar o filho naqueles rostos que a penumbra tornava iguais, o filho cuja morte lhe tinha sido anunciada na semana anterior, vítima de uma emboscada, na província portuguesa de Tete.
No interior de um dos veículos, o soldado Luís Silva não conseguia perceber se era frio, coragem ou medo aquilo que sentia. No meio das pernas, segurava a G3 e olhava para o chão, hipnotizado pelo ronronar do motor e arrastado por uma corrente ininterrupta de ideias. Sabia vagamente que estava a participar num levantamento, num golpe militar, para combater a guerra. Dentro da cabeça, as recordações da infância alternavam com imagens dos vários futuros possíveis em que era herói de uma revolução triunfante ou mártir de uma revolta fracassada

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Sessão de 28 de Julho de 2011

Quinta-feira, 28 de Julho, discutiu-se a obra "A Conspiração contra a América"e a esse propósito, a questão judaica tal como ela se apresenta nos dias de hoje.
Os temas de reflexão propostos foram os seguintes:
  • A linha do cerco aos judeus americanos tal como é apresentada em "Conspiração contra a América"
  • As fugas do pequeno Philip
  • Os judeus e a liberdade/ os judeus e o medo
  • Ser judeu hoje, em Portugal
  • Os judeus e o uso da força depois da II Grande  Guerra: finalmente uma terra sua ou uma lição aprendida?  
  • A  comunidade judaica em Portugal: assimilação ou desaparecimento?
  • A sociedade portuguesa e os judeus: o preconceito ainda existe?
  • Reescrever a história passada como fez P R: uma boa ideia?

domingo, 12 de junho de 2011

N Tua Face_ Luc

                                        
LUC = Lucrécio? 
por José Melo

            Uma das figuras centrais do romance “Na Tua Face”, não porque “intervenha” demasiado na acção – em grande parte do desenvolvimento dela Luc entra e sai, aparece e desaparece, é sempre um pretexto, uma espécie de empecilho, um “havemos de falar”, “eu tenho de lhe dizer” – mas porque ele é o centro da tragédia que se enovela neste romance-problema. Trata-se duma sucessão de frustrações: a) amores não realizados ou apenas os possíveis – Ângela em vez de Bárbara/Babi; b) de filhos –Luz e Luc – tidos por atacado como meras “funções fisiológicas” (o ideal era serem gémeos, diz-se algures, para tudo ficar resolvido, como um dossiê que se fecha na vida); c) de um “artista” que nem é médico nem é artista, que anda “há séculos” a tentar pintar um quadro, coisa grande, diluviana, cheia de “conteúdo”, que tenta sair daquilo que considera ser a  banalização dos “bonecos” para o jornal; d) de um marido que se sente intelectualmente diminuído perante a cultura clássica da esposa; e) de um ateísmo “estético” que chega a ser quase sacrílego, de muitos outros itens que fazem da vida quotidiana um sentido enfadonho de um qualquer Sísifo que transporta o seu rochedo como um fardo cheio de fealdade, de horror, de referências ao não-belo, mas que deixa entrever alguma graciosidade nostálgica por Coimbra, pelo mar, pela memória do passado, por alguns arquétipos do mundo rural, etc.
            Luc é um herói trágico: morre jovem, porque decide livremente assumir o seu acto suicidário, quando paradoxalmente, tudo levaria a pensar que, em teoria, Luc seria igual a Lucrécio, o autor latino de “De rerum natura”, assemelhado a ele no facto possível do suicídio de ambos, mas distanciado no concernente a alguns aspectos da filosofia do Epicurismo: aqui Luc é tudo menos epicurista, quando aquele defendia como prazer supremo uma vida longa e uma racionalização dos prazeres, ainda que partilhando o lado enigmático da existência. Na Conferência de Ângela na reitoria que Luc partilha com a mãe, sem ir assistir, porque “já conhecia”, como confessou diante da irmã Luz que detestava a paixão da mãe por essa sua paixão adúltera –“andava então muito inquieto com o acne metafísico da sua juvenilidade” (cit. final da pg. 141), diz ela a certa altura: “Lucrécio é o grande profeta da nossa hora. O homem, disse ele, é um doente que ignora a causa do seu mal, mas ele não a ignorava e deu-lhe remédio. E o grande remédio era sobretudo entender que nada é para entender e o homem também.” (ver cit. seguinte, pg. 143). E mais à frente, há uma referência ao “único problema real do homem”: a MORTE  (pg. 145) E para ela só há uma saída digna: o suicídio, ou seja, “o triunfo do homem sobre o destino” (pg. 145). Teses caras ao existencialismo de Heidegger ou de Sartre – “O homem é um ser para a morte”…Por isso, nada de ilusões, de paixões, de deuses…

sábado, 4 de junho de 2011

Na Tua Face_ Bárbara

EASR – Clube de Leitura – Maio 2011
Bárbara
 por Luz Rosmaninho 
Ninguém quis ser bárbara. Nem mesmo Bárbara. Ou quando quis não foi e o desejo não ficou.
Babi não foi mais do que memória de uma juventude ficcional, idealizada, nessa Coimbra também ela cidade‐memória, “tempo‐espaço de unidade original do sonho, do amor, do desassossego das grandes questões abertas ao infinito”1.
Fui então à procura de Bárbara. Encontrei‐a no mito da juventude que aqui tem esse tempo e
esse espaço próprio – Coimbra. É aí que o autor constrói o mito da mulher amada – essa
Bárbara, lado B. A tua face. Relâmpagos, iluminações que trazem aparições. Relâmpagos que
vão e vêm, que iluminam pedaços de vida que fazem as vidas. Ou flashes de Luz na sua
fotografia. Mas é na ausência de luz que se fixam as revelações.
Daniel, na sua forma de ser tímido, precisa de viver e com Ângela vive; Bárbara entretece‐lhe a
vida dando‐o a Ângela, não inteiro, não ele, mas o que dele é possível ali estar.
Ângela e Bárbara são assim A/B, duas faces da mesma moeda. O presente passado e o passado
sempre presente. Uma só em duas – a heteronímia do amor, como referiu Isabel Pires de
Lima?