sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

A música n' "Os Maias"

Nessa noite,  em S. Carlos, num entreacto dos "Huguenotes", Ega apresentou-o ao senhor conde de Gouvarinho, no corredor das frisas.(...)
Depois o conde abriu a porta da frisa, Ega desapareceu. E daí a um momento, Carlos, apresentado como "vizinho de camarote", recebia da senhora condessa um grande shake-hands, em que tilintaram uma infinidade de aros de prata e de blangles índios sobre a sua luva preta de doze botões.


A ópera "Os Huguenotes" do compositor alemão Giacomo Meyerbeer estreou em Paris em 1836 e tem como tema a relação amorosa entre uma católica e um protestante culminando com a histórica noite de S. Bartolomeu em 1572 em que milhares de Huguenotes franceses foram chacinados pelos católicos num esforço de limpar  a França da influência protestante e terminando  com a morte dos dois amantes.
Ora é precisamente esta ópera que Eça escolhe para servir de pano de fundo ao primeiro encontro entre Carlos e a Condessa de Gouvarinho, ela inglesa, ele católico prenunciando assim, subtil e ironicamente, o fim daqueles amores. 


Um cheio de instrumentos e vozes, de um tom sublime, passando pela porta da frisa entreaberta, cortou-lhe umas últimas palavras sobre a deficiência dos fotógrafos...Escutou com a mão no ar:
- É o »«Coro dos Punhais», não? Ah! Vamos a ouvir...Ouve-se sempre isto com proveito. hà filosofia nesta música... É pena que lembre tão vivamente os tempos da intolerância religiosa, mas ali incontestavelmente filosofia!