sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Reescrevendo a história... ou talvez não

                          
Clube de Leitura EASR
A Conspiração contra a América, Philip Roth
28 de Julho de 2011
                                                                                                                        
História do insucesso
                                                                                                                                                                                         

por  Conceição Rocha


Há dias que mais valia desaparecerem no calendário. Num desses, comprometi-me a reescrever um lapso da História em pura ficção, isto é, partindo da premissa inversa do sucedido de facto, construir uma pátria que, por obra dessa inversão, tivesse vivido um outro destino singular. À la Philip Roth, já se vê. Desatei logo a trabalhar.
1º passo: escolher um período histórico para ponto de partida. Significativo, decisivo na configuração da identidade nacional, deveria abraçar na sua importância a totalidade social – política, económica, cultural, religiosa, tudo.
Então formulei questões:

·         e se D. Manuel não tivesse trocado os cultíssimos e riquíssimos judeus pela vaca com quem casou?

·        
   e se Filipe III tivesse preferido defender a posse de Portugal em vez da Catalunha, ou além da Catalunha?



·         e se D. João V tivesse sido homem para gastar com proveito nacional o ouro do Brasil?



·         e se o Marquês de Pombal, além de matar os Távoras e expulsar os jesuítas, tivesse feito Portugal aderir à Reforma e impulsionado a revolução industrial?

·         e se a Maria da Fonte tivesse sido uma mulher ilustrada, que tivesse chorado com as elegias de Byron e pela sua alcova minhota tivessem passado Verlaine, Pushkin, Garrett e o jovem Liszt?

·         e se o 28 de Maio tivesse sido uma revolução socialista e o 25 de Abril uma perestroica?

2º passo: escolher uma questão em que me aguentasse minimamente quanto a informação verdadeira, para a poder manipular devidamente. Como se viu, Philip Roth domina a história verdadeira, o que o torna um mistificador perfeito.

E então, interroguei-me:
·         deverá o período temporal escolhido tocar no da minha própria existência, para me aproximar mais do verosímil?

Neste momento produtivo tinha já à minha disposição duas grandes atrapalhações:
1.    escassez de conhecimentos históricos;
2.    extrema dificuldade em matizar a narrativa, por forma a que o inventado não surgisse simplesmente como o inverso  do realmente ocorrido. Do género: se o D. Manuel tivesse aproveitado o enorme potencial da comunidade judaica, tinha-se construído uma sociedade próspera, culta, etc. Hoje éramos mais e melhor. Baaaa…

3º passo, ou passo liquidatário:
Depois de muito matutar, concluí que desta vez não era mesmo capaz de dar saída à empresa. Com tristeza me apercebi que, pegasse na ponta que pegasse ia sempre dar a um inverso simplista, sem a complexidade que é da natureza da História. Também me apercebi que o meu jogo imaginário de mudança, ao contrário de Philip Roth, vai sempre cair no real que me desagrada para o poder exorcizar reescrevendo-o nas suas consequências inversas. E dei por mim a, mesmo imaginando um real melhor, não lhe conseguir dar grande futuro. Um bom momento político nunca dura muito em Portugal. Assim é também o meu imaginário neste tema. Quando imagino um momento glorioso, cheio de futuro, aparece-me logo no horizonte mental um Sócrates qualquer a arruinar tudo.

Resta-me esperar pelo texto do António, que percebi que escolheu este dificílimo item. Acredito que ele ultrapassou todas as limitações que me afetaram (nova ortografia) e nos vai dar uma História interessantíssima.

Desejosa da compreensão do clube e certa de que as outras intervenções farão esquecer com enorme vantagem a minha pobreza de espírito e falta de fé na Pátria,

sou aquela que vos adora,

Conceição Ladina


Sem comentários:

Enviar um comentário