quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Domínio Público_Paulo Castilho


Domínio Público, romance de Paulo Castilho publicado em 2011, foi a obra escolhida para a sessão do Clube de Leitura  de 16 de Julho de 2013

Este romance, passado na Lisboa da actualidade, foi distinguido com o Prémio Fernando Namora em 2012.

E porque Verba volant, scripta manent,
 foram estas as propostas para os trabalhos escritos a realizar previamente à sessão:







  •   "Conselho de amigo: torna os teus livros mais escuros e difíceis de compreender, mais vagos, dizes o mesmo mas de maneira que não se perceba bem e vais ver, o teu estatuto aumenta logo." (Cap. II, p25)

  •   "Foi à Dâmaso Salcede. De atracão. Agora também as mulheres. É o progresso do século XXI." (Cap. XXV, p.292)
  •   "... o segredo de uma boa relação não é a verdade, nem a sinceridade, nem a bondade, nenhuma dessas coisas piedosas que proclamam as criaturas de boa vontade. É mais simples, é as pessoas terem espaço." (Cap. XIII, p.143)
  • : "Também eu li muito quando era jovem, mas agora já não tenho disponibilidade _ disse o Jerónimo virado para a estante_ houveram anos em que cheguei a ler dez livros, principalmente filosofia." (Cap. XXVIII, p.340)

  •   "Mas hoje em dia como é que um filósofo ganha a vida? Onde é o balcão para levantar o subsídio? E como é que prova que não é o Paulo Coelho? (Cap.XII, p. 139)

  • :"Com as mãos pegajosas, a boca cheia, o açúcar a escorregar-lhe pelos lábios, a Rita virou-se para mim: isto é que me reconcilia com a vida. Acenei com a cabeça: estive na Irlanda, país lindíssimo, bolos péssimos." (Cap. XXXII, p. 402)

  •   "As coisas são como são e as pessoas são humanas e as pessoas-sogras têm uma maneira muito mais humana ainda de serem humanas, sobretudo quando o descendente é do sexo masculino, não me perguntem porquê, não fui eu que fiz as regras, sei apenas que é assim." (Cap.VIII, p.88).


  • :"Perguntei à Zu: e agora tens alguém? Conheces os meus princípios_ respondeu a Zu_ exclusivo faz-me nervoso, na minha idade preciso de sossego e conforto e por isso enveredei pelo sistema da especialização" (Cap. XX, p.234)

  • :"...chop stocks? pump and dump? o que é isso?" (Cap.VIII, p. 96)

  • : "Acoitada atrás da grelha metálica, a velha saudou-me com os impropérios do costume: larga o rapaz, gabirua, não te chegam os meninos pipis?" (Cap. XXVII, p.329)


             propostas apresentadas por
             Alexandra Chop Stock




Domínio Público,  Paulo Castilho                                                   Clube de LeituraJulho 2013                                              


A necessidade de espaço 

por Manuela Pereira
 O segredo de uma boa relação não é a verdade, nem a sinceridade, nem a bondade, nenhuma dessas coisas piedosas que  proclamam as criaturas de boa vontade. É mais simples, é as pessoas terem espaço. (p.143)                                                                                           




“...Abateu-se sobre nós uma ligeira claustrofobia – Peter a mais, Rita a mais, tudo a ficar um pouco visto, feito, repetido.”
A Rita precisa de espaço para não deixar de ser a Rita. Um espaço livre como a sua casa, não um apartamento espectacular com vida programada “...num sítio sem alma a olhar para o Mar da Palha.”
Talvez as más razões a tenham levado à decisão certa. Com a fuga para a frente procura uma nova ligação, que não a transforme numa pessoa triste e cheia de ressentimentos.
Em Domíno Público as personagens saltam fora deste processo de anulação, criando outras ligações diferentes, criando espaço, outras polaridades, que possam impedir o choque ou a fusão.
A excepção é a relação entre Teresa Alves e o Dr. João Alves. Casaram na igreja, “...foram católicos progressistas, mas hoje já não são nada que tenha nome...”. Dizem que levam a sério as suas obrigações perante Deus e os homens, “...mas nunca notei que fossem melhores ou piores que nós mortais vulgares de Lineu.”
O casamento é outra história, não tem nada a ver com o amor. No casamento “...até o meu pai saiu ao lado da minha mãe. É o destino dos maridos.”
“O Eduardo e a Sara são muito complementares – disse a Sofia – o Eduardo gasta o dinheiro do meu pai, a Sara gasta-lhe todo o dinheiro que sobra...” Uma relação de interesse também não tem nada a ver com o amor.
A Zu e o Tiago são demasiado diferentes e por isso incompatíveis. Não há ligação possível entre eles apesar da filha comum, Benedita. Tiago diz, à beira de lágrimas de raiva, “Não gosto dela, foi uma emboscada, a mulher é um génio, sou fraco, sou idiota, deixo-me ir.”
A atracção entre pólos opostos cria uma corrente de dependência mútua, ou total. A colisão violenta e a fusão de núcleos do mesmo sinal, liberta uma enorme quantidade de energia.                                                       
A relação de Sofia e Jerónimo Silveira é violenta: “...fazemos as pazes, aceitamos ambos que acabou e fazemos as pazes, ficamos amigos, e tudo o resto – violações, queixas, polícia – é patético, só pode dar para rir.”. “A natureza é que sabe. Não há (havia) cá desequilíbrios.”
Filomena, a “viúva” de Bruno, amigo do Vasco, oscila entre Valentim e JC (Joaquim Casaca). “Olhando para o espelho a coisa complica-se. Está lá uma cara. Dizem-me que é a minha cara. Dizem mais, dizem que sou eu. E isso eu não sinto, acho mesmo que não.”
“É tudo desequilíbrio hormonal, mulheres é assim, um turbilhão de produtos químicos a circular naqueles corpinhos...”
“O Póvoa disse-me um dia que o verdadeiro romance hoje em dia acabou porque não há obstáculos. Não custa. Não é difícil. Ninguém acha que tenha de merecer o amor.”
                                                       La gran virtù d'Amore e  'l bel piacire
                                                       che nel mio cor di voi, mia donna, è nato
                                                       m'ha fedelmente in vo', donna, tornato,
                                                       ch'i v'amo e voglio sempre vo' servire             
                                    
                                                                                                                 Dante                  




                                      


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