segunda-feira, 25 de julho de 2016

A MÚSICA EM "OBLOMOV"

Os romances estão sempre cheios de música.    Que música se ouve  em Oblomov, um romance de Ivan Gontcharov publicado em 1859 na Rússia ?
 por Alexandra Azevedo


A criadagem ociosa está sentada ao portão; ouvem-se ali vozes alegres, gargalhadas, o som de uma balalaica, as raparigas brincam à apanhada. (101)
Mas já começa a entardecer. De novo crepita o lume na cozinha, de novo se ouve o som miudinho das facas: prepara-se o jantar.
A criadagem reuniu-se junto aos portões: ouve-se uma balalaica,ouvem-se risos. Os criados jogam à apanhada. (149)     


O senhor é músico?- perguntou Olga para o tirar do embaraço.
Nesse momento Stoltz aproximou-se.
- Iliá! Eu disse a Olga Serguéievna que tu és um apaixonado pela música, pedi-lhe que cantasse alguma coisa...Casta Diva. 


- Por que andas a dizer coisas a meu respeito?- replicou Oblomov.(...)
- De que música é que gosta mais? - perguntou Olga.
- É difícil responder a essa pergunta! Qualquer música! Por vezes escuto com prazer um realejo roufenho, um tema qualquer que não consigo tirar da memória,




 outras vezes saio a meio de uma ópera; Meyerbeer pode emocionar-me; 



ou até uma canção de barqueiro: 



depende do estado de espírito! Por vezes até Mozart me faz tapar os ouvidos...

- Portanto, gosta verdadeiramente de música. (254)


*
Ao passar diante das janelas de Olga, ouviu como o seu peito opresso se aliviava com os sons de Schubert, como que a soluçar de felicidade.

Meu Deus! Que bom viver neste mundo!(344)

*
Lançou um olhar ao camarote: os binóculos de Olga estavam dirigidos para ele.
«Ah, meu Deus!- pensou.- E não tira os olhos de mim! o que encontrou em mim? Que tesouro ela descobriu! Agora com a cabeça indica-me o palco...parece que os janotas estão a rir-se, a olhar para mim...Meu Deus, meu Deus!»
De novo agitado, coçava freneticamente a nuca, de novo cruzava as pernas.
Ela convidou os janotas do teatro para tomar chá, prometeu cantar a cavatina e disse-lhe que fosse também. (415)




*
_ Não, você tem que me dar conta do meu Iliá- insistia Stoltz. _ O que é que lhe fez? Porque não o trouxe consigo?
_ Mais ma tante vient de le dire- disse ela.
_ Ele é terrivelmente preguiçoso- observou a tia- e tão insociável, que assim que se reuniam três ou quatro hóspedes em nossa casa, ia-se logo embora. Imagine que comprou uma assinatura para a ópera e não ouviu nem metade da assinatura.
_ Não ouviu Rubini _ acrescentou Olga.
Stoltz abanou a cabeça e suspirou. (525)

Giovanni Battista Rubini (1794-1854) famoso tenor italiano 

Nota: Excertos de Gontcharov, Ivan (2015) Oblomov , Tinta da China, Lisboa
  

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