O pequeno Amos Klausner, o jovem Amos Oz
Durante a adolescência, o autor abandona o apelido do pai ‘Klausner’ e adopta o nome ‘Oz’, que significa ‘força’ em hebraico. A mudança do nome é pessoal ou política?
Não houve festa no dia da bar-mitzva de Amos Klausner. A mãe tinha-se suicidado havia apenas três meses.
O marco que assinalou a passagem da infância para a vida adulta de Amos foi a sua gargalhada durante o discurso de Menahem Begin, na sala Edison. A violência desse incidente fez o avô Alexandre sentir que o mundo à sua volta tinha desabado. A resposta foi igualmente violenta. E aconteceu a queda. As três bofetadas expulsaram Amos do paraíso. Da infância.
Ao descrever o incidente Amoz Oz refere-se a um pequeno nacionalista, um miúdo, como se não fosse dele próprio que falasse.
Até aí Amos tinha sido uma criança fácil, obediente, respeitadora do mundo dos adultos e dos valores da ordem estabelecida.
E um dia, graças a Menahem Begin, perdeu “de uma vez por todas a vontade de ‘sacrificar o sangue e a alma/pela glória escondida’”, “Deixei de considerar que ‘abjecta é a calma’. (p.516)
Foi “…enquanto o avô Alexandre me arrastava pela orelha para a rua, aos berros que mais pareciam gemidos loucos de horror, que comecei a fugir da ressurreição e da redenção.” (p.523)
“Não foi apenas delas que fugi, mas do sufoco da vida naquela cave entre a minha mãe e o meu pai e os milhares de livros, das ambições, das saudades censuradas e reprimidas de Rovno e de Vilna, de uma Europa que se materializava entre nós no carrinho preto do chá e nos guardanapos de musselina branca, da injustiça do fracasso da vida dele e das feridas da vida dela, fracassos que me cabia a mim transformar um dia em sucessos, todas essas coisas me pesavam tanto que eu só aspirava a desaparecer.”(p.523)
“À noite, errava durante horas pelas ruas ou terrenos baldios, fora da cidade. Por vezes ia até à barreira de arame farpado e aos campos de minas que dividiam a cidade, e uma noite penetrei inadvertidamente no no man’s land, … . Nos dias seguintes não pude impedir-me de lá voltar, como se quisesse acabar com tudo.”
“Queria fugir, libertar-me de uma vez por todas dos meus dois inimigos, o corpo e a alma. Queria ser uma nuvem. Uma pedra à face da lua.” (565)