A música em A Boneca de Kokoschka
alexandra azevedo
Conversaram sobre música porque ele era músico e, no final da noite, apaixonaram-se para sempre.(...) Ao fundo, ouvia-se uma música de Django Reinhardt: Tears
Nunca serei um grande guitarrista, pensou Miro Korda a olhar para as mãos. São muito grandes e falta-me delicadeza. (...) Acabou a sua actuação com uma versão de Minor Swing. A sua guitarra, cor de mel, assentava muito bem com o fato escuro e às riscas que costumava usar.
Ele teve um aneurisma e operaram-no. (...) Esqueceu-se de tudo. Tudo! Nem devia saber fazer um dó. Ele que era um músico genial. Teve de aprender a tocar guitarra outra vez. Do início. Ele é a prova de que a anamnese platónica é um facto. Reaprendeu a tocar ouvindo-se a si mesmo.(...) É por isso que eu gosto de Platão: aquela coisa de a nossa alma ter estado em contacto com as Ideias e que, ao chegar aqui, à estação de Tercena, esquecemos tudo. (...) Tal como o Pat Martino. Nunca toquei com ele, mas gostava de lhe perguntar umas coisas.
_ Vou pôr o pato na caixa. (...)
O pato grasnava enquanto Korda, com as suas mãos muito grandes, agarrava o corpo fininho da japonesa. Na sua cabeça cantarolava: o pato vinha cantando alegremente, quém quém, quando um marreco sorridente pediu para entrar também no samba, no samba, no samba.
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