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Era uma vez uma aldeia abandonada por todos os seus habitantes.Até pelos cães e gatos. Até os passarinhos a deixaram. E durante muitos anos a aldeia ficou assim silenciosa e deserta. A chuva e o vento arrancaram os telhados de colmo, a neve e o granizo abriram brechas nas paredes das cabanas, as hortas secaram e apenas as árvores e arbustos continuaram a crescer, mas como não havia quem as podasse foram ficando cada vez mais emaranhadas. Uma noite, chegou à tal aldeia um viajante que se enganara no caminho. Bateu à porta da primeira cabana e eis que ...queres continuar?"
Uma História de Amor e trevas", Amos OZ
Aqui fica o primeiro desafio para a próxima sessão. Continue a história e publique-a como comentário
… não serviu de nada. A porta de madeira, ensopada de água da chuva e coberta de espesso musgo, não possibilitava qualquer batimento, para além dos do seu coração, ansioso e um pouco assustado.
ResponderEliminarjmr
Não se moveram um milímetro: nem a porta, nem ele – os anos pesavam, mas naquele instante foi, seguramente, o medo que tolheu a ambos os movimentos. Porém, mesmo estática, a porta deixou escapar um uivo.
lm
Para além do vento que fazia mexer as folhas das árvores e se metia pelas frinchas da cabana, entrando e saindo com silvos agudos e frios, nada mais parecia mover-se naquela escuridão dorida. Mas aquele uivo tinha chegado aos seus ouvidos duma forma tão estranha… como se não pertencesse ali, como se alguém ou alguma coisa pretendesse transmitir-lhe algo… Jaime tremeu. Apeteceu-lhe voltar as costas e fugir. “Não. Não vou fugir!”. E num arranque de dignidade, começou a inspeccionar a porta, músculos tensos e atenção reforçada pela primeira claridade da manhã que despontava. Então observou, afastando um pouco o musgo, que por baixo daquele aparente abandono se encontrava uma porta de madeira velha mas em bom estado. Fez pressão e novamente se fez ouvir aquela espécie de uivo. Já sem medo, abaixou-se e leu a inscrição em letras pequenas na parte inferior da porta: “Aqui mora Magda, quem me ajudar será recompensado”.
jmr
“Magda,” – pensou, “querida Magda…há quanto tempo! Ajudar-te--ei sem reclamar a recompensa, a menos que mais uma vez não me entregues a dama de espadas”. E, de um trago bebeu o conteúdo dum frasco que estava encostado à porta e, em segundos, as letras pequenas da inscrição ficaram grandes e escritas por cima da sua cabeça: pôde então entrar na cabana, mas passando por baixo da porta.
Agora no seu interior, viu Magda.
lm
A visão de Magda foi para Jaime como que um banho de luz inebriante e quase irreal. Passados 23 anos o seu corpo mantinha-se fresco e jovem, a pela morena exalava um aroma agridoce excitante, os cabelos negros quedavam-se nos ombros nus, mas o olhar… fê-lo estremecer. Os olhos verdes rasgados tinham perdido o fulgor e denunciavam qualquer coisa de indefinível, uma espera aflita, um desencanto sofredor. Meia reclinada num sofá comprido de veludo rosa carmesim, vestia uma saia preta larga e uma blusa branca sem botões mas com duas fitas que apertavam atrás. O seu rosto estava iluminado pela luz directa dum candeeiro eléctrico. Um livro aberto estava pousado ao lado. A sala não tinha nada o aspecto tenebroso do exterior. Pelo contrário, mobiliário antigo e cuidado, tudo limpo e confortável, ambiente acolhedor em contraste com o que se passava lá fora. Estantes repletas de livros. Numa prateleira, muitos frasquinhos (“esquisito!”, pensou ao observá-los). Jaime estava ali parado, frente a Magda, mas estranhamente sentia-se como se estivesse afastado muitos metros e divisava os objectos com alguma dificuldade. Também estranhou o facto daquele ser adorado não ter dado pela sua presença. “Ou finge que não me vê”, considerou. Talvez reflectisse no passo a dar seguidamente. Não lhe restava a menor dúvida que ela queria reatar a ligação apaixonada daqueles anos. Como nada se passava resolveu chamar, cheio de esperança febril e sonhadora: “Querida Magda, estou aqui para te ajudar no que precisares. Alguma coisa ou alguém guiou os meus passos até ti, meu amor. Aqui me tens!” Mas Magda, triste e absorta, não só não respondeu, como mudou de posição e murmurou: “E cá estou eu sempre sozinha. Só os frasquinhos de essências mágicas é que me defendem de quem persiste em fazer-me mal”. Jaime ficou perplexo. Então resolveu tocar-lhe na mão direita caída desalentada na beira do sofá. “Mas que é isto? Não consigo chegar à sua mão?” Só então reparou, aterrorizado, que a sua cabeça estava à altura do dedo grande do pé cheiroso da querida Magda. “O quê? Arrrgh! Foi o líquido da porta que bebi ao entrar. Fez-me ficar com três centímetros de altura!!!
ResponderEliminarSocorro, Magda!” Mas ela não ouviu o seu guinchinho de quase rato, meio insecto… Então Jaime arranhou-lhe o pé, a seguir desesperado, beliscou-lhe o dedo mindinho e conseguiu saltar-lhe para cima (do pé), dando-lhe uma dentada furiosa no tornozelo. Magda, irritada e sentindo uma picada, sacudiu o pé e esmagou Jaime com o livro fechado dizendo: “Ora toma, bicho do caraças! Agora já não me ferras mais!”. E berrou: “Rosalina! Vem cá e traz a vassoura e a pá! Põe este maldito insecto no lixo!”
ResponderEliminarjmr
“Caramba! Parece que este meu refúgio é secreto apenas para os homens!... não há dúvida que estes bichinhos já o descobriram!”
“ Quando me virão ajudar? Quando me ensinarão o caminho de volta? Teremos, Rosalina, que ficar para sempre as três, aqui cativas neste fim de mundo?” – e dito isto, levantou-se do sofá e, assim que privou o seu rosto da luz que o iluminava, ele voltou ao seu aspecto habitual, quase negro, duro e semelhante ao basalto.
Eram quase 5 horas. Apetecia o chá: - “Rosalina? – prepara o chá e chama a minha irmã para se juntar a mim”; e enquanto se dirigia para a mesa, dirigiu o olhar à prateleira dos frasquinhos, “não é possível!” - estranhou - “os frascos estão mexidos!” – e aproximando-se – “A poção que preparei e enviei para chamar o meu querido Jaime não está toda aqui! E falta-me um frasco! Ai que horrorrrrrrr….e não sei qual !!!!!!!”
Nisto, aparecem à porta, prontas para tomar o chá, Rosalina com a bandeja magnificamente preparada e a estonteantemente bela Dama de Espadas, irmã de Magda.
lm
Porto, 1 de Novembro de 2011
Luísa Moniz
José M. Rebelo
"Era uma vez uma aldeia abandonada por todos os seus habitantes.Até pelos cães e gatos. Até os passarinhos a deixaram. E durante muitos anos a aldeia ficou assim silenciosa e deserta. A chuva e o vento arrancaram os telhados de colmo, a neve e o granizo abriram brechas nas paredes das cabanas, as hortas secaram e apenas as árvores e arbustos continuaram a crescer, mas como não havia quem as podasse foram ficando cada vez mais emaranhadas. Uma noite, chegou à tal aldeia um viajante que se enganara no caminho. Bateu à porta da primeira cabana e eis que ...queres continuar?"
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