terça-feira, 31 de maio de 2011

Na Tua Face



26 de Maio



O debate prolongou-se por três horas. O Tempo, o Amor, as personagens e a sua angústia de existir, a Pintura, a Fotografia, o Belo, o Horrível, a Arte, e o muito mais que vai perpassando em Na Tua Face e que os diferentes olhares dos diferentes leitores retiveram, fizeram o tempo voar.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Na Tua Face _ O Amor

O Amor em Na tua face de Vergílio Ferreira

por Margarida Mouta

[…] todo o homem só ama a mulher que não existe. E bom é isso. Porque se ela existisse, o amor deixava de existir. Mesmo que ele a ame como supõe. Porque todo o amor só existe nos intervalos de a pessoa amada existir. Fora desses intervalos não existe.”
Vergílio Ferreira, Pensar, p. 53-54


            Como narrativa (romance, paixão) – diz-nos Roland Barthes[1] – o amor é uma história que se cumpre no sentido sagrado. Um programa que deve ser percorrido. Em Na tua face, a história esgota-se num núcleo diegético mínimo que se resume em brevíssimas palavras: Daniel conhece Bárbara que exerce nele um extraordinário fascínio, mas casa com Ângela que não ama (ou que ama de outra forma) e continua, pela sua vida fora, convivendo através da memória com o amor impossível que sente por Bárbara, em lembranças que vêm por si, sem que ele as chame.
                Quanto ao programa que deve ser percorrido, não será outro senão o da oscilação entre a eterna problematização da condição humana tão cara a Vergílio Ferreira e a tensão entre a evocação e a reflexão filosófica que perpassa em cada página deste livro. 

                Não é fácil falar de amor – do amor – num romance como Na tua face que se move num complexo jogo de conexões e espelhos em que todas as coisas parecem ter o seu duplo, em que tudo parece oscilar entre o que se vê e o que se imagina ver, entre o que se vive e o que se evoca. Não é fácil determinar o lugar que o amor aí ocupa se não o considerarmos também ele como sentimento duplo, passível de ser questionado e olhado nas suas duas faces: o real e o irreal, o visível e o invisível, o possível e o impossível. Tudo nesse amor evocado por Daniel é duplo: Ângela e Bárbara são duas faces da mesma moeda que o acompanharão sempre. Ângela será a presença constante na conjugalidade partilhada da casa, dos filhos, das férias, mas também das leituras, das conversas, dos momentos de dor e silêncio… Bárbara será o objecto da evocação obsessiva; manter-se-á presente na memória de um breve instante, no eco de um chamamento, como manifestação de plenitude, de perfeição, de eternidade, a face que se vê, mas só no impossível:
“Então olhei-a em deslumbramento e terror no intocável do seu ser. Queria ver-lhe os olhos verdadeiros e a boca e a face, mas não estavam lá. Porque eram só uma aparição difusa incontornável como a luz do ar que não se via e era só iluminação. (…) Via-lhe a face mas só no impossível como lha vejo agora” (pp.24-24)

Na Tua Face_ O Tempo


O TEMPO QUE RESTA (MAIO)


por Orlando Falcão

Nota : todo o texto em itálico é de “Na tua face “ de Vergílio Ferreira
                                                                                                                                                                   
e então olhei-me no espelho pela primeira vez. Porque eu nunca me olhara mas só o que me enfeitava o que não viaV.F.                                                                                               
Claude Monet, La Pie,
1868, 130X89 cm. Museu D`Orsay, Paris
      



10 de Maio
Hoje, dia dez de Maio de dois mil e onze, completo cinquenta e cinco anos de vida. 55 anos.
Não posso brincar com os números, como geralmente fazemos: 54 poderiam ser 45, 53 poderiam ser 35… 55 são sempre 55. Não sei se muito se pouco tempo.
Não que ligue à idade, mas sinto o tempo.
Olho-me ao espelho enquanto me barbeio. Quanto mais se vê uma coisa menos se vê. Mas hoje reparo com mais pormenor na forma como o rosto se transforma: mais uma ruga, mais um pequeno sinal, mais uma mancha na pele, as olheiras mais profundas. É principalmente na pele e na alma que sinto o tempo. O cansaço do tempo que passou, mas que de quando em quando me faz voltar a ser menino. Ainda.
Às vezes tempo que passa é-me apresentado de forma mais evidente, palpável: há dias, no barbeiro, reparei que o cabelo que se acumulara no chão, junto da cadeira, já não era preto. Era um pequeno amontoado de fios de prata.
A vida corre como um longo fio de prata em que os pequenos nós bem apertados são, por vezes, difíceis de desfazer.
E também já vou dizendo “no meu tempo”…
Não escolho especialmente os dias para fazer balanços de vida. Mas hoje tenho de escrever este texto. Porque é dia 10 de Maio.
Como todos os jovens, penso eu (ou pensava Mishima quando o escrevia?) achei que deveria ter um destino especial. E diziam-me que tinha um dom.
Sei que, ainda muito novo, olhava com admiração as reproduções de grandes pintores nos livros da “Colecção RTP”. Olhava-as longamente, e tentava relaciona-las com os textos na página oposta.
E comecei a pintar para pintar. Para ser “artista”.

sábado, 28 de maio de 2011

Na Tua Face _ Ângela

Ângela, a coragem de não ter ilusões

  Alexandra Azevedo

Que é que há mais numa face?

                                                                                                                                                                   

Tinha nome de anjo. Em latim. Ângela. Gosto imenso de dizer o teu nome. É amplo bastante para lá caber a minha vida inteira agasalhada. E era loura, branca e rosada  como os anjos devem ser. E como a estes compete, os olhos eram azuis. Celestes. Frios. E eu fiquei a olhá-la longamente na sua face branca e rosada, no cabelo solar, nos olhos frios de azul. E, porque não há anjos feios, pois nesse caso sofrem imediata despromoção a demónios, Ângela …era bonita à sua maneira, clara, correcta, feita por Deus em momentos de lazer. A sua natureza angélica tinha, ainda, a vantagem de lhe evitar os desconfortos humanos _ Nunca sinto calor nem frio, disse ela _ seria humana?

Na Tua Face


Em homenagem às origens beirãs de Vergílio Ferreira, a sessão de Maio do CL decorreu na Casa da Beira Alta do Porto. A presidente, Fernanda Braga da Cruz, recebeu-nos amavelmente, na Biblioteca.

Os temas propostos para preparar o debate de Na Tua Face foram os seguintes:

O Belo/ o Horrível/ a Arte
A Pintura/ A Fotografia
O Tempo
O Amor
De Rerum Natura
Ângela
Daniel
Lucrécio
Luzia
Bárbara



quarta-feira, 25 de maio de 2011

Philip Roth

Philip Roth, escritor americano, é o vencedor, deste ano, do Booker Man International Prize, um prémio bienal de carreira criado em  2005. O anúncio foi feito no Festival Literário de Sydney, no dia 18 de Maio. Em 2009, o prémio foi entregue a Alice Munro, autora canadiana, pela sua obra de contos.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Na tua Face

Excepcionalmente, e por Vergílio Ferreira ser um beirão (da aldeia de Melo), a próxima sessão do Clube de Leitura da EASR decorrerá na Casa da Beira Alta do Porto a cuja direccção o CL agradece (dia 26 de Maio, pelas 18.30h).

Manuel António Pina Prémio Camões 2011

A poesia é uma hesitação permanente. A poesia é som e o som também tem sentido.

Manuel António Pina                                                                                                                                         
in revista  "O Caniço" (Escola Artística de Soares dos Reis)                                                                                                                                                                                                                                                   
O Clube de Leitura da EASR felicita o autor.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Manuel António Pina

Van Gogh Mondrian

Uma vez um anjo apaixonou-se por van gogh e veio vê-lo
van gogh pintou-o naquela cadeira, te acuerdas frederico bajo la tierra?
o anjo depois foi-se embora e van gogh ficou com o tabaco estragado

mondrian também tinha um anjo mas o dele era mau
não se importava com coisa nenhuma batia-lhe nos olhos 

in "Poesia Reunida", Manuel António Pina

domingo, 15 de maio de 2011

Verba Volant, scripta manent

Manuel António Pina

Amor como em Casa

Regresso devagar ao teu
sorriso como quem volta a casa. Faço de conta que
não é nada comigo. Distraído percorro
o caminho familiar da saudade,
pequeninas coisas me prendem,
uma tarde num café, um livro. Devagar
te amo e às vezes depressa,
meu amor, e às vezes faço coisas que não devo,
regresso devagar a tua casa,
compro um livro, entro no
amor como em casa.

Manuel António Pina, in "Ainda não é o Fim nem o Princípio do Mundo. Calma é Apenas um Pouco Tarde"

Texto enviado por Margarida Mouta